Capítulo 52 - todos somos danificados

Andamos por cerca de 5 minutos e aquele silencio havia começado a me incomodar.

-O que você estava vendo?

-Umas fotos minhas, quando pequeno, com minha família toda unida em almoços e jantares.

-Ah. Desculpe perguntar, não fazia ideia.

-Tudo bem. –Ele tirou uma de suas mãos do bolso do casaco e pegou uma minha, entrelaçando nossos dedos. –Nós costumávamos nos reunir todo fim de semana antes do meu pai começar a beber.

-Por que ele começou a beber?

-Sei lá. Só começou e não soube mais parar. Parece que todos somos danificados, mas só alguns deixam o erro definir suas vidas.

-É. –Concordei pensando no quanto ele não se abria comigo.

Mas antes d’eu começar a puxar o assunto, encontramos ela. Melissa.

-Ei! –Ela disse acenando, enquanto vinha na nossa direção. Estava com duas sacolas de mercado nas mãos.

-He-Ei. –Alex disse, meio incomodado. –Melissa, essa é Isabella, minha namorada. Isa, essa é aquela minha amiga a qual te falei..

-Entao ele andou falando de mim, huh? –Melissa riu, simpática, me abraçando e cumprimentando –

Tudo bom?

-Sim. Prazer te conhecer.

-Todo meu! Fiz umas visitas a Alex, apenas pra ajuda-lo com negócios de seu pai e ele não parou de 

falar de você e de vocês dois. –Ela sorriu, me olhando, mas era obvio que aquele sorriso não a atingia 

completamente, porque aquela felicidade não era dela.

-Ah, que fofinho. –Apertei seus dedos nos meus, fazendo-o me olhar com uma interrogação no rosto.

-Entao, estão passeando por aqui?

-É, vim leva-la pra conhecer minha mãe. –Alex falou meio sem graça.

-Ah, legal! Qualquer dia que vocês vierem, podemos sair. Ia ser legal. –Ela falou meio infeliz, de novo. –Bom, se me derem licença.. preciso ir! Até breve.

-Até. –Nos despedimos com uns sorrisos meio falsos nos rostos.

-Que foi isso? –Alex me perguntou assim que nos afastamos dela.

-Nada, por que?

-Voce tava toda estranha. Aconteceu alguma coisa?

-Sua mae me contou, Alex. –Bufei. –Ela me contou do aborto.

Ele na hora parou de andar, me olhando.

-Não acredito. –Falou tao baixo que nem sei como consegui ouvir.

-Por que você não me contou?

-Eu juro que ia contar, Isabella. Mas você me contou que a mesma coisa aconteceu com você e porra, porra.. –Ele passava a mão por seus cabelos, injuriado. –Qual a chance disso acontecer, entende? Encontrar com alguém que tenha passado pelo mesmo que eu?

-Mas aconteceu. E eu teria me sentido muito melhor te contando tudo, se você tivesse me dito na hora que o mesmo aconteceu com você e que você não só sabia, mas entendia pelo que eu passei.

-Desculpa, Isabella, desculpa.. –Olhou em volta. –Desculpa.. Não tem mais nada que você não saiba, eu juro.

-Não sei se consigo acreditar em você.

Voltamos pra casa de sua mãe e o clima não estava bom. Ela percebeu e deu a desculpa de que ia comer no quarto dela, porque assim podia ver o programa que passava no momento, enquanto estava deitada e comendo.

Por volta de 18h, nos despedimos dela e voltamos pra casa.

-Quer que eu fique aqui com você? –Alex perguntou ao me deixar na porta de meu apartamento.

-Não.

-Tem certeza?

-Alex, eu só quero ficar sozinha. –Falei mais num sussurro que numa voz normal. –Por favor.

-Ta bem. –Assentiu. –Se você precisar de alguma coisa, qualquer coisa, só me liga.. Isa. Só me liga.

Passei o resto da noite terminando uns trabalhos e arrumando papeis do estágio, pra segunda. Tinha coisas mais importantes que deveriam ocupar minha mente no momento. 

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